quarta-feira, 11 de abril de 2007

Um projecto de vida...




Tudo tem a sua história, o Homem e a sua obra. A história da RUIMAR que me pediram para escrever é uma história rica, escrita pelo tempo e por aqueles que lhe têm dedicado uma parte muito significativa da sua vida .
Por muito estranho que pareça, a RUIMAR nasceu em MACAU. Corria o ano de 1962 e todos os tempos livres eram dedicados a conhecer de perto essa civilização milenar, enigmática, misteriosa mas tão rica .
Depois de passar muitas horas observando alguns chineses, que tratavam os seus peixes e os seus aquários resolvi que também eu haveria de criar em minha casa um pequeno mundo aquático onde os meus hospedes se sentissem pelo menos tão bem como nos aquários onde tinham nascido e crescido.
Logo que tive o meu aquário de cantoneira de ferro pintado e vidros vedados com massa de vidraceiro apercebi-me que apesar de todos os conselhos recebidos de alguns amigos chineses e macaenses, a tarefa não era nada fácil. Estava lançado o repto. Havia que começar a devorar tudo o que sobre aquariofilia aparecesse escrito em livros ou revistas.
Regressei a Portugal em 1964 a bordo de um velho navio de da nossa marinha de guerra, mas dependurado do teto do camarote balouçava, amarrado por umas cordas um pequeno aquário com peixes tropicais, que seriam os primeiros habitantes de um aquário maior que viria a ser montado em casa dos meus pais e que passou a ser tratado por meu irmão Rui.
Estava lançado o vício. Só cerca de 1968 eu iria começar a brincar de novo com os aquários.
Comecei por dois pequenos aquários no meu quarto de dormir, mas em 1972/73 o numero desses aquários era de 27, enquanto que em casa de meu irmão eles já enchiam um grande prateleira e não seriam muito menos. Era preciso fazer alguma coisa, porque as criações dos peixes mais difíceis iam sobrepovoando os aquários existentes.
Entretanto a convivência com outros aquariofilos, entre os quais terei de forçosamente nomear o Dr. Veríssimo F. S. Borges, biólogo que dedicou grande parte da sua vida à aquariofilia, mas que infelizmente foi obrigado a dedicar-se a outra actividade, e os contactos permanentes com o Aquário Vasco da Gama, permitiu-nos adquirir conhecimentos tais, que nos levaram a montar uma firma. O nome haveria de ser riomar pois viríamos a investigar também a difícil disciplina que constituía a aquariofilia de água salgada. A tentativa de registo do nome da firma saiu gorada porque já existia, pasme-se um alfaiate com esse nome. Mas não estava nada perdido o meu irmão chamava-se e chama-se Rui, assim foi fácil encontrar um nome parecido e nasceu a RUIMAR.



( cartão de 1973 feito a pensar no nome RIOMAR )
Começou devagar, mas com uma característica que ainda hoje se mantém, tornou-se num ponto de encontro de aquariofilistas. Aqui se trocam conhecimentos de toda a ordem. Nunca esta casa teve segredos para ninguém e é seu apanágio transmitir a todos que a procuram os conhecimentos que vai adquirindo com quem sabe, para além de possuir uma biblioteca extraordinariamente completa.
O estabelecimento que se montou em 1973 possuía somente cerca de 20 m2 e uma pequena cave. O numero de clientes e amigos que rapidamente se fizeram, obrigaram a que passados cerca de três anos houvesse que se procurar uma maior área para permitir a continuação da actividade e assim montaram-se umas instalações que ao tempo foram consideradas as melhores da Península Ibérica. Faziam-se importações de várias partes do mundo e desenvolveu-se a fabricação de material próprio.
Foi durante todos estes anos que aprendi as características deste hobby que no fundo não se limita a encher um tanque de água e atirar para lá uns peixinhos, que se fosse só isso no dia seguinte estariam possivelmente mortos para desgosto não só dos pais que gastaram o dinheiro para proporcionar aos seus filhos um hobby educativo, uma via de aproximação, com a natureza de que tantos andam arredados, mas também dos filhos que muitas vezes se vêm queixar de lágrimas nos olhos.
A Aquariofilia abarca tantas vertentes cientificas e técnicas diferentes que se torna um verdadeiro manancial de entretenimento.
Isto só significa que desde o inicio estamos no bom caminho, mas tratando-se de uma actividade que não corresponde a uma necessidade primária, as dificuldades de gestão de uma tal empresa são enormes.
Sobre a importação dos peixes eram cobradas taxas exorbitantes comparáveis a artigos de luxo. O mercado só agora parece estar a acordar para este tipo de actividades. Entretanto a RUIMAR foi pioneira no lançamento de material de aquariofilia segundo a sua concepção, lançou produtos químicos, e editou folhetos explicativos que distribuiu gratuitamente, para que os seus conhecimentos permitissem manter os peixes em cativeiro em perfeitas condições de saúde.
A firma, mercê da sua postura, de transmissão de conhecimento, mais do que de exploração comercial, granjeou a confiança de todos os que com ela contactaram e de certo modo o ressentimento dos que tinham por fim somente o lucro rápido e fácil.
Foi a primeira casa em Portugal, para além do Aquário Vasco da Gama a manter em aquário peixes tropicais dos recifes coralinos do oriente (Filipinas e Singapura) permitindo-nos desfrutar os mais belos peixes do mundo.
Foi também na RUIMAR que foi possível ver a reprodução dos magníficos Discus do Amazonas o que até então só tinha sido possível na Alemanha.
Desta forma a RUIMAR tornou-se conhecida nas Filipinas, Singapura, Tailândia, Brasil, América, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Holanda e etc...
De uma coisa estou certo, é que apesar de todas as vicissitudes da sua existência a RUIMAR continuará a servir o publico com a mesma competência profissional e o mesmo desapego pela parte material, que infelizmente é obrigada a não ignorar.
Tendo em consideração a utilidade didáctica, cultural e social que representa, julga-se que a sua actividade deveria ser amparada, encorajada e difundida.

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